Duas semanas se passaram desde o pacto feito entre Douglas e Nicolas.
No geral as coisas estavam se encaminhando até que bem, apesar do clima entre eles não ser dos mais amistosos, pelo menos por parte de Nicolas; mas a rotina havia lhes proporcionado um bom acordo, e entre dias de marasmo e noites de matança, os dias passavam de certa maneira tranquilos.
O que não era tão comum quando se era um serial killer atarefado, claro. Ainda assim, dias tranquilos.
- Nada como o cheiro forte de sangue pra animar uma noite monótona, hein?- Douglas tentou cortar o gelo, sem muito sucesso- o pessoal costuma gritar mais quando eu os caço assim, mas os de hoje foram tão quietinhos..hahaha…
Ele segurou um braço decepado que havia tirado do fundo do saco e começou a balançá-lo de uma maneira abobalhada, como se aquilo fosse ajudá-lo a dar algum efeito cômico ao seu comentário.
Pela cara de Nicolas, não havia dado muito certo.
- Eu pensei que sua desenvoltura social fosse melhor que sua técnica de caça, mas pelo visto eu estava…muito enganada.
Douglas fez uma careta, que podia ser notada facilmente mesmo por debaixo do crânio que usava.
- E-em minha defesa, eu…converso melhor que isso- ele se encolheu, envergonhado- é só que eu perco um pouco a mão quando tô nervoso…
- Oxe, e tá nervoso por quê?
Ele coçou o braço meio sem jeito, tentando desviar a atenção para qualquer outra coisa que não o rosto de Nicolas, e por fim deu de ombros como quem não tinha certeza da resposta- mas que mesmo se tivesse, provavelmente não falaria nada.
Nicolas apenas riu.
- Ah, você tem uma queda por mim, né…? Poxa vida, mas que pena. Eu tinha esquecido.
- Tá mais pra um tombo gigante- ele suspirou, tentando controlar sua ansiedade- mas já que tu sabe disso, eu…
- Escuta- o demônio o cortou de imediato- infelizmente pra você, essas coisas não colam comigo. Pelo menos não sem um bom e caprichado cortejo primeiro. Tu vai precisar fazer melhor que isso, grandão.
Talvez o senso de superioridade de Nicolas tenha o atrapalhado naquele instante, mas ele não percebeu de imediato o efeito reverso causado por sua resposta. Muito para seu desgosto, o rosto de Douglas se acendeu com a promessa de novas esperanças.
- Então...você tá querendo dizer que, se eu te cortejar “do jeito certo”, eu posso ter uma chance?
Nicolas se virou para ele, incrédulo. Que raios de pergunta era aquela?
- Opa, pera lá. Eu não…
- Tudo bem!- Ele correu para guardar o restante dos pedaços do corpo que havia fatiado aquela noite- eu vou…tomar mais cuidado a partir de agora. Quer dizer, era o que eu já tava fazendo, mas...
- Amado, acho que você não entendeu…
Douglas se aproximou dele e segurou suas mãos, da maneira mais respeitosa possível.
-Se tu se sentir desconfortável com algo, só me dizer...mas eu te prometo que vou prestar mais atenção nos sinais, e te dar o melhor cortejo de todos. Então marque minhas palavras!
“…Por Lúcifer, no que foi que eu me meti?” era tudo o que Nicolas conseguia pensar, enquanto Douglas dava partida em sua moto e os levava para casa, durante mais uma típica e escura noite de verão.
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