O tempo foi passando, e assim, Moama foi criando um laço com essa nova família. Seu irmão mais velho era completamente diferente de qualquer pessoa que conseguia lembrar. Quando ele fez cinco anos, sua magia despertou, e ela entendeu um pouco mais da mágica daquela realidade. Seu irmãozinho tinha agora a capacidade de se transformar num tipo de baleia fantasmas capaz de mover marés. É claro que, com cinco anos, a única coisa que conseguiu foi ondular um pouco as águas do lago que havia dentro da propriedade da família.
Já, na vez de Moama, seus poderes despertaram um pouco antes do seu aniversário de cinco anos. Ela se transformou em um tipo de Boto-cor-de-rosa gigante e, também possuía a capacidade de se comunicar com os animais. Esse dia ficou marcado em sua memória:
A família tinha ido ao litoral da ilha, para uma reunião com os pescadores. Por um instante, após o ocorrido, ela pensou que estava em um sonho.
Nesse tempo que vivia nesse novo mundo, pode perceber que ele moravam num conglomerado de ilhas onde vários seres mágicos existiam. Os pescadores eram, em suas maioria, Ondinas e seres mágicos híbridos. Viviam em um tipo de palafita muito requintada e decorada, como todas as outras casas das ilhas.
A seus olhos, não parecia haver nenhum tipo de desigualdade monetária ou racial naquele lugar. Era muito tranquilo, onde ela e o irmão podiam brincar com as outras crianças da região sem se preocupar. Havia feito amizade com um fada, que tinha belas asas de mariposas e olhos grandes de cor lilás, chamada-se Bang-Jeon Yona.
Enquanto os pais resolvia algumas questões com os pescadores, Moama e Yona (방정 요나) estavam brincando perto do cais. Ficaram sabendo que um Kraken estava invadindo a área, roubando os peixes e destruído as casas mais afastadas. Na cabeça de Moama, a imagem do monstro era algo irracional e cruel.
Ainda era engraçado para Moama encarar seu reflexo. Ela continuava sendo uma moça negra, como em sua vida anterior. Mas agora, tinha grandes olhos vermelho sangue, e o cabelo era uma mistura de mechas, num azul royal, amarelo ouro e verde água. Era como se seu cabelo refletisse uma parte cada um de seus pais. Seu cabelo era bem cacheado, mas, quando estava triste: Ficava mais liso, e, quando estava muito feliz: Ele se enrolava como minúsculas molas perfeitas.
Isso a fazia lembrar dos desenhos animados que assistia com seus antigos irmãos aos Domingos, quando sua mãe tinha que trabalhar na casa dos patrões entojados. Lidar com pessoas esnobes era ruim, mas poder ver aquelas animações e poder comer coisas que nunca teve em sua casa, era incrível.
"Espero que minha antiga família esteja bem. Que estejam protegidos e bem alimentados." No fundo, gostaria que sua família pudesse ter a oportunidade que estava tendo. Viver num lugar seguro e igualitário, onde as diferenças eram vistas apenas como qualidade e não com discriminação.
Porém seus pensamento foram trazidos mais uma vez para realidade enquanto brincava com Yona no cais molhando. Perto de seus pequenos pés, alguma coisa começou a brilhar dentro da água. E ela pode ouvir, de dentro de sua própria mente, alguém reclamando de muita dor.
– Yona... ouviu? – Perguntou Moama encarando água – Parece que tem alguém chorando...
– Hum.... parece muito triste! – Falou a outra menina batendo suas asas e começando a flutuar próximo a água.
A colorida se aproximou da ponta do cais, para que também pudesse avaliar o que estava na água. Assim que começou a reparar melhor em seu reflexo, pode notar duas esferas douradas a encarando. A primeira vista, pareciam pequenas, como duas bolas de gude. Depois, começaram a crescer, envoltas em uma massa disforme, quase transparente. E então, tomando lentamente alguma forma, surgiram tentáculos, como os de uma lula. Pequenos flashs de luz rosa e verde brilharam a partir das transformações que acontecia ali, bem em frente aos seus olhos.
Moama pode ouvir mais uma vez o chamado em sua mente. Era a lula, que sentia muita dor. Havia um gancho estranho preso em um de seus tentáculos, grande e adornado, feito de um metal diferente de que ela já tinha visto nas ilhas.
– Ala! está ferida!.. – Falou Yona, encarando o animal.
– Tem um gancho preso... – Falou a outra menina, seu vocabulário de cinco anos na língua desse novo mundo ainda não era muito extenso.
Sem pensar muito, a filha do trisal entrou na água, tentando ajudar o animal. Assim que sentiu água do mar tocar sua pele, seu corpo se transformou, agora era um boto rosa, ou um primo daquele mundo. Já que nas barbatanas tinham braços bem fortes, ela conseguiu arrancar o gancho numa única puxada.
A lula não gostou nem um pouco da dor, e começou a emitir um urro que formou ondas nas águas tranquilas. Também, começou a crescer e crescer, até ficar maior que os barcos do cais. Seus tentáculos se debatiam, mas ela não machucou nenhuma das crianças. Na verdade, usara alguns dos tentáculos como um bote para que as duas meninas ficassem seguras, enquanto os demais membros de seu corpo debatiam-se na água com força.
Sem pensar muito, Moama e Yona tiveram a mesma ideia. Assim como seus pais faziam, deram um beijo no tentáculo machucado, que começou gradativamente a se curar. Contudo, antes que o grande animal parasse de se debater, todos que estavam nos barcos e no cais já os haviam cercado.
Era claro que tinham medo que alguma coisa pudesse acontecer com as duas crianças. Puderam ouvir o grande trovejar que era a voz de Biwa chamando as duas meninas, já começando a se transformar num dragão serpente para protegê-las.
A lula fechou os tentáculos em volta delas, como se as protegesse dentro de um casulo. Moama entendeu, a lula achou que o dragão ia machucá-lás. Ao perceber isso, a menina encostou a testa no tentáculo e, com sua mente, explicou que aquele era um de seus pais.
Então a lula delicadamente colocou-as de volta no cais e voltou a diminuir de tamanho, se escondendo debaixo do deque. Ela ainda podia sentir a vibração do animal, tentando falar com ela, assustado. Dragões comiam Krakens, foi o que a lula lhe disse.
– Papai! É amigo! – Falou a menina correndo para o enorme dragão, que envolveu as duas meninas formando um ninho com seu corpo em volta delas, deixando apenas a cabeça na altura de seus rostos.
– Tem certeza, agi-shi?! Perguntou dragão. Sua filha que apenas afirmou com a cabeça. – Consegue entendê-lo?
– Sim!! É amigo! Tá cum medo! – Ela falou, segurando no focinho do pai, que deu uma baforada, voltando a forma humanoide e pegando as duas meninas no colo sem dificuldade.
– Ela voltou!! – Falou Yona, apontando para lula, que agora não era maior que um barril de vinho. Pendurada numa das pilastra do deque, tentando alcançá-las com um de seus tentáculos maiores.
– Olha só... parece que vocês fizeram um grande amigo! – Falou Uiara, se aproximando do animal, que voltou a se encolher. – Você tem uma ferida bem feia amiguinho... – A mulher pegou o tentáculo machucado e criou uma bolha de água com sua magia que, ao encostar no ferimento, o fechou instantaneamente.
Agradecido, o animal pulou na mulher a envolvendo num abraço cheio de tentáculos. Moama podia ouvir o agradecimento ressoando da lula, que parecia bem aliviada pela ajuda.
Depois de soltar-se, foi deslizando, num jogo de zigue-zague com seus dez tentáculos, até Biwa. Estendeu um de seus membros para que as meninas batessem um "hi-five" nele. As duas o fizeram sem nem pensar, soltando risadas espontâneas.
– Bem parece que resolvemos o problema com o kraken... ou melhor, Moama e Yona resolveram. – Falou Thierry se aproximando delas, e dando uma leve apertada em suas bochechas, que continuavam firmes no colo de Biwa.
O dragão deixava bem claro que não colocaria nenhuma das crianças no chão, e continuava olhando meio torto para o Kraken. Mas o animal agora nem se importava, só tinha olho paras as garotinhas.
– Realmente, ganharam um novo amigo! Qual vai ser u nome delu? – Perguntou Uiara, abaixando ficando na altura da lula, que também estendeu os braços para lhe dar outro "hi-five".
– Robson!!! – Falou Moama, batendo palminha no colo do pai. – Pode ser Robson?
O Kraken voltou a ficar maior, fazendo uma dancinha. Pelo jeito havia gostado do nome. Voltando-se para perto das meninas, Biwa o encarou feio, apertando ambas ainda mais em seu colo.
Naquele momento, a jovem não fazia ideia que estava começando a formar sua party (como chamavam nos RPGs de seu mundo). Mesmo sendo apenas uma pequena criança, sem saber do futuro, ela tinha dois grandes amigos e aliados. Uma fada dos animais e, agora, também, um Kraken.
– Parece que, finalmente, nossa bebê despertou sua magia! – Falou Thierry, pegando Moama para seu colo e colocando-a perto de Robson, que escalou sua perna e se agarrou a menina. – Teremos que chamar Morgana para avaliar!
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