estudado tudo aquilo antes, ao mesmo tempo fazendo anotações em folhas avulsas ou marcando palavras-chave em rosa, Susana notou que de vez em quando ela olhava em sua direção, quando Morgana fez menção de retrair a mão estendida, ela a segurou.
- A anatomia turra permite a projeção de escudos de diversos tipos, além de curas, selos, aumentar a força física ou resistência do usuário ou da dupla. - Morgana havia deixado as anotações para apoiar a bochecha em sua mão, enquanto encarava Susana –, quais reações ocorrem dentro do corpo antes e depois de utilizar o poder? Eis a questão.
Morgana era a líder da turma. Susana se lembrava quando os alunos da turma se encontraram pela primeira vez, Morgana havia chegado semanas depois mas já era alvo de comentários, algo sobre a família ou sobre status, nada que fosse do conhecimento da garota de cabelos verdes, que vinha de uma cidade do interior e não sabia desses assuntos. O que ela sabia era que, apesar de ter um físico de uma amazona, Morgana era normal, o que em um ambiente cheio de pessoas com asas, escamas, caldas, cabelos e olhos de cores diversas, cabelos pretos e olhos castanhos tão simples não eram um bom sinal.
Apesar disso, a moça mais alta andava como se ela houvesse nascido com o direito de reinar sobre todos ali. Para a raiva de muitos, e para a confusão de Susana, que via apenas tristeza nos olhos castanho-claros.
- É para aumentar minha resistência – a voz de Morgana despertou Susana de seus devaneios, mas não ajudou em nada a esclarecer o que estava acontecendo ali. Morgana apertou a mão da outra levemente –, eu sempre exagero nas pesquisas, eu gosto, mas é cansativo.
- Mas meu poder não é do tipo burst...
- Eu sei – Morgana deu uma risada nervosa –, gostaria de almoçar comigo?
Susana olhou para a colega sem entender a situação. Morgana não era conhecida por ser amigável, muito pelo contrário, então todo
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aquele contato físico, e olhar de relance, e convidar para almoçar junto, quando Susana sabia que Morgana costuma almoçar com dois alunos de outras turmas.
- Eu almoço com o meu irmão.
- Bem, isso não é um não – Morgana a encarou. Susana continuava atônita, mas resolveu não desviar o olhar. Os olhos caramelo da colega eram algo que Susana não entendia, se ela olhasse bem veria um mar de carinhos e afetos que prometiam jardins de tulipas vermelhas, mas as tulipas desbotavam em um amarelo triste e eram então engolidas por um oceano profundo e frio que não falavam nada além de solidão.
- Você poderia almoçar conosco? – Susana decidiu –, se você quiser.
- Adoraria.
Foi mais fácil do que Morgana havia imaginado. Durante o almoço ela perguntou Susana sobre a cidade natal dela, e então Susana desatou a falar como a colega nunca havia visto antes. Augusto era a exata imagem que Morgana havia pensado, introvertido e irritadiço, meio desleixado, o oposto da irmã.
Mais tarde, ao chegar em casa, Morgana mandou mensagem para Susana, e depois de um – ou três – horas de conversa, ela pediu o número de Augusto, para o que Susana brincou se Morgana estava interessada em seu irmão, e Morgana explicou que ela tinha interesse em programação, e queria algumas dicas com Augusto, visto que ele era um dos melhores alunos da turma, e isso foi o suficiente. Foi de fato fácil demais.
***
- Quando vai me arranjar um horário na sua agenda? – Davi brincou ao alcançar Morgana em frente ao portão da Setemptrionalem.
- Achei que seus horários já estavam todos reservados para Pedro.
- Ai. Que dor! Acho que seu sarcasmo está perfurando meu coração! – Davi encenou de forma dramática estar sendo apunhalado e Morgana desatou a rir.
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- Sério Davi – Morgana o repreendeu, mas como ele dirigiu sua marca registrada de ‘olhos de cachorro molhado’, ela suspirou e cedeu a ele um carinho –, que tal esse sábado? Você ficou de me mostrar o tal do antiquário.
- Perfeito! Está marcado então – Davi respondeu pulando de contentamento –, eu estava com saudades de você.
- Você me viu ontem?!
- Exatamente! Só te vi, parece que faz séculos que não conversamos.
- Dramático.
- Sou! – Disse ele, com estrelas nos olhos.
Passos pesados de alguém correndo os alcançaram, e antes que Davi pudesse reagir, Pedro estava praticamente pregado às suas costas.
- Isso que é chegada! – Davi disse, rindo e se virando para o amigo –, isso é um foguete no seu bolso?
- Isso é meu celular! – Pedro respondeu tirando o celular do bolso para confirmar e como Davi o estava encarando de forma obscena ele resolveu não dar atenção –, ficou sabendo o que aconteceu?
Como Davi não o respondeu, ele respirou fundo.
- Alguém estava usando ondas supersônicas e um dos prédios acadêmicos perdeu todas as janelas.
- Oh. Legal.
- Legal? – Pedro olhou para o amigo atônito.
- É modo de falar – Davi respondeu –, mas então, o que aconteceu depois?
- Não sei ainda, por isso perguntei se você sabia de... – o sinal para a aula tocou interrompendo Pedro, que se esqueceu rapidamente do assunto e foi correndo para sua sala.
Morgana continuou acompanhando Davi.
- Sábado, antiquário, me manda o endereço.
- Sim, minha rainha – Davi sorriu o mais inocente dos sorrisos e Morgana percebeu que havia sido Davi quem havia, de alguma forma, usado as ondas supersônicas.
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