O começo das aulas, ou volta às aulas, é exaustivo para a maioria dos alunos na Setemptrionalem, inclusive os alunos da classe Fehu que, apesar de serem subestimados por seus poderes de suporte e defesa, possuem o corpo docente mais rigoroso entre as classes. E é por isso que, no primeiro dia de aula, Morgana já estava se enterrando numa montanha de livros, em uma das mesas da biblioteca.
É claro que nem todos os seus colegas estavam tão atarefados, seja porquê a dedicação deles só brilha nos dias pré-testes, ou porque Morgana resolveu que pegar três disciplinas extras seria um bom desafio mental com o benefício adicional de ter um currículo aprimorado, e com nove disciplinas para se dedicar, seu método de estudar previamente as matérias – para chegar às aulas com alguma base – estava prestes a afundá-la num tsunami de folhas envelhecidas. Morgana estava exultante.
Enquanto isso, em algum lugar dos Campos Elísios, Davi descansava, apesar de ainda ser manhã, e ele não ter nenhuma aula antes do meio-dia, uma vez que ele tinha apenas três disciplinas para cursar, duas regulares e uma extra. Apesar de ter muito tempo livre, Davi gostava de ficar perambulando pelo campus em vez de dormir mais ou apenas não sair de casa. Em pensar que ele já estava no quinto período, metade do curso. O professor responsável pela turma Doppler, Henrique Campos, havia recomendado que ele se dedicasse às disciplinas que ‘conversassem’ melhor com as habilidades dele, as outras disciplinas podiam esperar.
Ao mesmo tempo na SRA( Secretaria de Registros Acadêmicos) Pedro anotava a grade do seu período diligentemente, ele precisava se dedicar ao máximo, uma vez que seu tutor era um homem exigente. Seriam seis disciplinas, sendo metade delas disciplinas práticas, que eram as que mais interessavam o rapaz. Ele não tinha nada contra as disciplinas de conhecimento ou abstração teórica, mas Pedro era um tipo mais pragmático. Ele até havia perguntado ao seu professor de
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Introdução à Prática Elemental, Antônio Lisboa, se era possível fazer algum teste para saltar a disciplina, não era.
O sinal do intervalo do almoço ecoou pelos campos tirando Davi da sua imersão no livro que tinha em mãos e como se tivesse mente própria seu estomago grunhiu de fome. Ele mandou uma mensagem para Pedro perguntando se eles se encontrariam nessa hora, mas o amigo ainda não havia respondido.
***
Saindo da biblioteca, Morgana avistou Davi e acenou, como o rapaz mais velho não pareceu avistá-la, ela seguiu na direção dele, e mais de perto era evidente que ele estava perdido em seus próprios pensamentos, como sempre.
- O que é isto na sua mão? – Ela perguntou gritando quando ainda estava a alguns passos do amigo.
- Uma faca!
- Não! – Morgana riu. Davi algumas vezes era impossível de prever –, sério, qual livro?
Chegando mais perto do amigo, Davi a entregou um livro de bolso sobre fractais.
- Você se interessa por cada coisa.
- Eu me interesso por você.
- Você se interessa por Pedro, isso sim – a garota retrucou, e mesmo esperando pela resposta Davi ainda assim ruborizou.
- Então – o rapaz limpou a garganta –, como estão as aulas?
- Você sabe, o de sempre.
- Isto é, você pegou mais disciplinas que alguém mentalmente estável deveria pegar.
- Exatamente! Você me conhece tão bem – Morgana respondeu sorrindo –, espera, você me chamou de louca?
- Não, eu disse que você precisa aprender a aproveitar a vida.
Antes que pudesse responder, outra voz interrompeu a conversa.
- Davi! – Pedro chamou –, desculpa não ter respondido, vamos almoçar juntos...?
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