- Tinha me esquecido... – Como se estivesse envergonhado Davi respondeu rindo, Morgana não costuma xingar sem razão, mas o garoto sabia que ele tinha umas ideias que a tiravam do sério –, mas já tá na hora ne? Vejo meus colegas se formando ou executando técnicas poderosas ou lindas, enquanto eu mal posso manipular corretamente a energia a minha volta sem perder a consciência.
- Pelo menos você sabe que o seu poder é manipulação de energia. E eu? Não tenho nada além de uma lembrança do que pode ter sido meu poder, mas que pode não ter acontecido de verdade, considerando que nunca mais se repetiu – Morgana falou começando a fazer uma carranca e se fechando.
- Calma sua desesperada! Tenho certeza de que logo você vai descobrir qual a sua peculiaridade. Mais do que isso! Sei que vai ser a mais poderosa que essa escola já viu! – Davi disse com uma convicção persuasiva, Morgana sorriu quase contente –, além disso com poder ou sem poder, você ainda é a garota mais inteligente do campus.
- Você só diz isso porque me ama – a garota respondeu ainda amuada, mas orgulhosa pelo reconhecimento de sua inteligência.
- Isso também. Mas é sério, sinto que em breve seu poder vai transparecer!
Uma salva de palmas e ovações interrompeu a conversa e o Diretor finalizou dizendo:
- Novamente, sejam todos bem-vindos! Lembrem-se que aos Jogos de Outono acontecem em abril, assim os times participantes devem se inscrever até o final de março. Esse ano parece muito promissor e talvez nossa escola consiga representantes mais fortes para a Battle Royale! Até breve!
Enquanto os alunos deixavam o Coliseu, Morgana ficara observando o pessoal superficialmente, uma conversa ou outra chegava claramente aos seus ouvidos, nada muito interessante, mas seu foco estava todo no Diretor. Salomão era alguém que Morgana conheceu há algum tempo atrás, ela sabia que ele era inteligente, ambicioso e carismático e poderia chegar a qualquer posição de poder, mas para ser
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um diretor, ele precisava ter uma outra motivação. A recordação da última conversa que tiveram não respondia o enigma que era o plano de Salomão dentro da Setemptrionalem, e se isso tinha qualquer relação com os ‘desaparecimentos’, a intuição de Morgana dizia que poderia estar de alguma forma relacionado, agora restava descobrir de qual lado Salomão poderia estar.
- Ei... – Davi pousou uma mão sobre as mãos cruzadas da amiga, tentando dissipá-la do labirinto de pensamentos que ela parecia ter se perdido –, tudo bem aí?
- Hmm, sim – Morgana olhou para o amigo, tão inocente, tão gentil, e não pôde deixar de se sentir mal por ter que usá-lo, ela tinha uma missão para cumprir, e ao mesmo tempo ela não se sentia tão culpada, porque Davi também escondia algo que o rosto infantil dele não deixava transparecer –, você sabe melhor que ninguém que a gente precisa fugir da realidade de vez em quando, não?
- ‘A realidade dói’, é o que dizem! Mas eu não fujo da realidade! – Davi olhou para Morgana contemplativo, ele sabia que havia algo errado, mas todos temos nossos segredos –, é a realidade que foge de mim!
Morgana relaxou rindo silenciosamente, Davi observava que nesses momentos mais tristonhos sua amiga parecia mais vulnerável, e algo em seu coração dizia que ele devia protege-la, ‘mas de quê?’, ele se perguntava e não sabia responder, nem entendia o porquê dessa sensação, Morgana era forte, imperativa, inteligente, nada poderia impedi-la de alcançar qualquer coisa que ela desejasse, e em alguns momentos ela lembrava Davi dele mesmo.
- A gente poderia montar nossa própria realidade – Morgana disse distraída, um ar quase esperançoso.
- Nós vamos! – Davi disse sorrindo seu melhor sorriso – , mas não hoje, deixa pra segunda.
Morgana riu, dessa vez alto, e Davi riu junto, tudo ia ficar bem. Eles se despediram na entrada do campus, Morgana entrou num carro que a estava esperando e quando Davi gritou ‘Metida!’ ela apenas deu de ombros e sorriu um daqueles sorrisos pequenos que eram carregados
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de carinho e tristeza e que Davi sabia que ninguém mais faria Morgana sorrir daquele jeito, cheio de sinceridade.
Davi pegou o ônibus de volta para a cidade, nesse momento ele desejava que seu poder fossem asas, pra ele voar de volta pra casa, para sua comunidade, ele ia ligar pra sua mãe quando ele chegasse no dormitório, mas quando entrou porta adentro, ele só deitou na cama e dormiu pesadamente.
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