assunto –, deixa pra lá. Você pode lidar com isso, vamos prestar atenção agora que é a fala do Diretor.
A cerimônia estava realmente bonita, antes das formalidades alguns grupos de dança haviam feito apresentações, e agora o Diretor ressoava palavras encorajadoras para os calouros, cada professor coordenador falando das expectativas e vantagens de suas respectivas classes a fim de motivar os novatos. A fala do Diretor era a mais impactante, e apesar de provavelmente não se lembrar de uma só palavra depois, Morgana não conseguia parar de observar os movimentos fluidos, o sorriso jovial contrastando com o terno austero em cinza monocromático combinando com os cabelos.
– O que você está fazendo aqui na Setemptrionalem, Salomão? – pensava a garota.
— Sabemos bem o porquê de fazerem isso né Morgana? – Davi disse tentando quebrar o silêncio, enquanto a garota parecia não querer conversa, mas estava imersa em outra dimensão.
- Claro... – a atenção de Morgana estava toda no Diretor. No ano passado ela só havia ouvido o diretor uma vez, mas não tinha reconhecido sua voz, e na cerimônia de abertura ele não havia aparecido, então, finalmente vê-lo era um choque maior do que ela poderia ter calculado.
- Eu particularmente iria dizer que quanto mais estudantes entrarem e ficarem nas turmas, mais empregos seriam gerados e consequentemente o salário dos professores ficariam garantidos. Ou, talvez, que eles estão simplesmente cumprindo com o bendito slogan da Setemptrionalem, mas quero uma resposta que me mostre outro ângulo de abordagem... ‘Cê tá me ouvindo, Morgana? – Davi rompeu o fluxo de pensamentos da moça que parecia ter caído na conversa naquele instante.
- Sim, Davi – Morgana disse recuperando a compostura, felizmente ela era capaz de compartimentalizar sua atenção, e ela já tinha uma resposta para Davi –, se analisarmos o alto número de evasão nas turmas, principalmente na sua classe, versus a demanda por pessoas
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formadas e aptas a utilizar suas habilidades no desenvolvimento desta região, a abordagem executada por eles é quase plausível.
- Sabia que você tem o dom de esculachar sem machucar? – perguntou Davi em verdadeira admiração. Sem dar tempo para Morgana ficar encabulada com o elogio, o garoto logo mudou de assunto –, você acha legal se eu disser isso ao Pedro? Ou deixo que ele descubra como o sistema funciona por si só?
- Isso é entre você e o seu amigo de longa data. – Morgana falou com uma pitada de raiva pela intromissão invisível de Pedro na conversa –, eu tenho que focar nos meus estudos.
- Agradeço por se preocupar tanto comigo... Um dia eu retribuo o favor - Davi respondeu com um riso sincero e carinhoso.
- Besta. Morgana pensou rolando os olhos, antes de mudar de assunto –, Vamos prestar atenção na apresentação.
- Ok.
Davi tentava em vão decifrar como o cérebro de Morgana funcionava. Ele sabia que ela era séria e focada, mas quando estavam juntos ela era sempre meiga, quase grudenta, hoje, no entanto ela estava um pouco alheia demais. O garoto sabia que a causa podia ser o aparecimento de Pedro, talvez fosse melhor ficar quieto, mas o único método de conseguir resolver as coisas com Morgana era achar um assunto mais interessante.
- A gente poderia estar lá demostrando quão grandiosas são nossas habilidades, por que estamos na plateia mesmo? – Ele disse, como se por impulso, tentando dissipar a energia negativa que estava pressentia estar pairando sobre a amiga. Quando viu os olhos de Morgana, semi-serrados em concentração, se abrirem enquanto as sobrancelhas se arqueavam de uma forma meio pateta, ele sabia que tinha acertado na escolha da pergunta.
- Será que é porque nós não temos nem ideia de quais são nossas habilidades? Sua besta quadrada – Davi era o único que conseguia lidar com a sua constante falta de humor, era também o único que conseguia fazê-la rir sem pensar, e Morgana sabia disso.
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