seu melhor sorriso e só não se jogou para cima de Pedro porquê uma vozinha na sua consciência o impedia.
- Não acredito que é você mesmo! – Davi disse, seu tom alegre, suave e quase suspirado.
- Parece até que estou sonhando! – Pedro deixou escapar, mas antes que Davi pudesse responder, o rapaz completou levando o dorso da mão dramaticamente à testa num movimento que Davi reconhecia de quando eles eram crianças correndo pelos corredores da escola primária -, ou a colisão foi tão forte que eu ainda estou tonto?
- Sua anta, você sempre foi tonto! – Davi disse sorrindo e reparando que Pedro estava mais parrudo e muscular do que o menino que ele se lembrava, apesar de não ter ganhado em altura.
- Pelo que lembro a anta é você - com um misto de apreensão e vergonha, o rapaz mais baixo respondeu a voz ficando aguda apesar de ter sido um murmúrio.
- Quer dizer que você vai estudar aqui?! Já sei que vai dar muita merda – Davi sorriu carinhosamente, Pedro agora era evidentemente mais forte, e a tez mais séria e madura, mas ainda era o mesmo moleque com o qual Davi havia doces lembranças da sua infância e adolescência.
- É só você não nos meter em muitas encrencas como da última vez. Pode ser até divertido – Pedro disse correspondendo o sorriso do amigo.
Seis anos atrás, Pedro havia deixado a comunidade de Ribeirão das Dores prometendo a si mesmo que aquela era a melhor decisão e que ele não deveria olhar para trás. Mas com o acidente de Igarataí e o fogo que consumiu sua antiga comunidade, Pedro olhou para trás e chorou, porque Davi estava morto. Pedro havia abandonado então seu plano de estudar na Setemptrionalem como eles haviam planejado juntos. Mas há menos ele encontrou alguém interessado em ajuda-lo, um tutor, e em troca da ajuda, Pedro deveria entrar na Setemptrionalem e servir de peão. A primeira missão, localizar um aluno chamado Davi. Pedro riu da ironia, mas quando abriu a pasta com os dados do rapaz, seu coração quase saiu pela garganta. Era impossível, até que não era, e finalmente vendo o seu antigo comparsa de traquinagens ali sorrindo,
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mesmo depois da tragédia e de Pedro ter ido embora sem dar adeus, fazia o seu coração bater mais leve e mais descompassado.
- Muito! Imagina eu e você, fazendo nossas badernas de sempre, mas agora numa das escolas mais conceituadas do país?! – Davi já estava em orbita com vários pensamentos meio nostálgicos e meio travessos.
- Prefiro nem pensar uma coisa dessas.
- Mas hein, você vai se matricular em qual turma? – Davi perguntou. A classe mais óbvia era a turma da terra correspondente ao poder de Pedro, mas ele se lembrava que o amigo sempre pensava grande, talvez ele tivesse optado por outra.
- Oxos, uma vez que vai me orientar a controlar minha habilidade Elemental – o rapaz soou firme, mas talvez firme demais -, com bastante empenho, eu vou poder manipular mais que somente terra.
- Eu ainda não entendo o porquê de você estar aqui... – Davi se lembrava de uma infinidade de coisas sobre o velho amigo, e ficou surpreso consigo mesmo, porque ele quase não tinha memórias do passado -, que eu saiba você foi embora para cursar algo dentro das áreas médicas, por que voltou atrás e veio para a Setemptrionalem?
Davi lembrava que João Pelegrini, pai adotivo de Pedro, disse que Pedro havia recebido uma oportunidade de fazer um curso preparatório para ir estudar Medicina e por isso tinha ido embora. Mas Davi não conseguiu entender como Pedro havia abandonado o plano deles de entrarem juntos para a Setemptrionalem, mas se Pedro houvesse explicado, e pelo menos se despedido, Davi ficaria triste, mas mesmo assim sempre apoiaria a escolha do melhor amigo.
- Sonhos mudam com o tempo meu caro – Pedro disse com uma pitada de rancor. Um dia ele ousara sonhar, mas a vida o havia ensinado que poder é mais importante que ... tudo –, além do mais, o mercado de médicos já está saturado mesmo, mas o mercado de ações...
- Ah nem vem, não deu nem cinco minutos de conversa e você me vem com essas filosofias compradas e pensamentos capitalistas.
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