Os Campos Elíseos ressoavam o farfalhar de gramas secas em um fim de tarde avermelhado.
Apesar de preferir a quietude e sereno das manhãs, o outono possuía uma certa magia que levava Davi Lucas a ficar horas desbravando os campos da Setemptrionalem de Carapiúna, até o céu despontar seus primeiros tons alaranjados e as pernas dele finalmente cederem ao cansaço, levando-o ao topo de um morro, sob proteção de alguma árvore antiga.
- Lucas, há algo mais bonito que isso? A transição do dia para a noite e a disputa entre os tons quentes e frios na pintura do céu...
- Nossa! Como você está poético hoje Davi.
- Sarcasmo?! Nem ligo, eu tenho um bom livro para ler, uma boa companhia, e a noite logo irá chegar...
- Ah! Passa mais tarde Davi, não tenho tempo para seus devaneios!
- Seu chato! Vamos ter mais um ano letivo divertido juntos!
- Se forem como o ano passado eu posso aguentar conviver contigo por mais algum tempo.
- Não é como se você tivesse outro lugar para onde ir, não é mesmo?
Davi costumava se perder em suas reflexões, porque sua mente respondia de forma tão independente que Lucas se tornou uma pessoa separada do seu eu, era um amigo com quem poderia sempre conversar, nunca estar sozinho. O rosto quase infantil de Davi, seus cabelos cacheados e expressão sempre risonha escondia tanto a idade quanto a existência do seu Lucas interior, e fragmentos que Davi não conseguia distinguir se eram memórias ou sua criatividade alterando coisas que ele leu nos livros.
A recepção dos calouros da Setemptrionalem do campus de Carapiúna-Brasil começaria à noite, mas antes mesmo de amanhecer Davi estava de pé, pronto para uma nova aventura, e por isso passara o dia todo entretido em mapear todos os cantos da escola, que agora ele já conhecia com a palma da mão.
- Eu não tenho outro lugar para ir, mas você tem, Davi!
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- Hm?
- A recepção seu lerdo! A Morgana já deve estar revirando o ginásio atrás de ti.
- É mesmo! Você ficou me enrolando e deu nisso, você sabe que ela não é boa em ficar esperando...
- Ah agora a culpa é minha?! Anda logo homem de deus!
- Tô indo, tô indo.
Davi estava no seu segundo ano na Setemptrionalem quando conheceu Morgana. Foi numa daquelas situações que podem chamar de coincidência ou destino, mas que independente do nome serve para ligar pessoas com almas afins.
Morgana tinha uma personalidade séria, mas intensa, contrastando com o jeito particularmente desajeitado e volátil do Davi. Contudo, assim como Davi, ela não possuía nenhuma habilidade muito extravagante. Cada Turra tem uma particularidade que os tornam raros e ao mesmo tempo parte de um grupo ou classe, mas Morgana e Davi se encontravam numa situação diferente dos demais.
Por que eu tive que vir à essa recepção? Cadê o Davi? – era tudo o que passava na cabeça da garota que se sentia cada vez mais ansiosa.
O poder de Morgana só havia despertado uma vez quando ela criança, talvez aos dois ou três anos, alguns dias ela duvidava se ela realmente era uma Turra, e como não havia conseguido reproduzir o que ela achava que acontecido, tudo o que ela pôde fazer foi duvidar de si mesma e se dedicar aos estudos.
Apesar de portadora de uma inteligência que sobressaía a média, ela nunca se dedicou a expandi-la, uma vez que tal não era particularmente incentivado por sua mãe, dando sempre importância às aulas de etiqueta. Ainda assim, Morgana tinha uma curiosidade inata a tudo que era Turra, mesmo que as informações mais simples, como por exemplo sobre a genética Turra, eram sempre vagas e incoerentes. Durante uma de suas pesquisas algo chamou atenção de Morgana, talvez tivesse relação com o atentado à comunidade de Ribeirão das Dores alguns anos antes, mas para
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