“A origem dos Turras é datada no ano de 1945, apesar de haverem divergências quanto a um local, cientistas discorrem que a maior possibilidade é que os primeiros a sofrerem as mutações foram os povos expostos à radiação resultada da última guerra. Alguns pesquisadores afirmam que o desenvolvimento das mutações não tem ligação com a radiação, mas com a evolução natural...”.
- Besteira - Davi pensou ao fechar o livro ‘A história dos Turras – Edição de bolso’.
Quase um século havia se passado, mas obviamente todas as respostas levavam a outras dezenas de perguntas, e a natureza humana quase nunca é benevolente com o que não é normal.
Os primeiros da ‘raça’ Turras provavelmente não representavam risco algum, mas seu ciclo evolutivo era muito mais rápido que o da raça humana, e em menos de meio século suas mutações atingiram níveis ‘inapropriados’ para a outra raça com a qual compartilhavam o mundo.
Ser humano é normal. Alguém disse a Davi, que na época entendeu que ser turra era ser especial. Tempos depois ele percebeu que algumas pessoas acham que ser especial é errado, pois não está de acordo com alguma ideologia disseminada através dos séculos. Davi se lembrou de uma aula de Ética em que o professor citou:
- “A violência é inerente aos humanos, e humanoides, e sua distinção para com outros animais é somente a capacidade de racionalizar sua violência”.
A discussão da aula foi sobre como a violência poderia ser erradicada, e apesar de render bons questionamentos não chegou a conclusão alguma.
A tentativa de separar os Turras dos outros humanos levou à uma série de insurreições até a intervenção do Novo Governo, querendo ou não Turras também eram humanos e por isso tinham os mesmos direitos e deveres como qualquer outro cidadão, mas devido aos seus poderes, os Turras precisariam de uma educação específica para que eles
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não utilizassem seus poderes inapropriadamente mas em prol de uma sociedade melhor e mais forte.
A criação de escolas regulares para os jovens turras concedeu a paz de duas décadas que dura até então. Ao se formarem, os Turras ganham uma licença para usar seus poderes nas diversas esferas da sociedade, podendo se aperfeiçoarem cada vez mais e se tornarem professores e mestres das futuras gerações de superpoderosos.
As diversas habilidades turras permitiram um pulo no avanço tecnológico que outrora teria demorado um milênio para acontecer. Durante os últimos anos não houveram grandes guerras, e quase nenhuma insurreição grave. Até então, um motim ou outro acabava por acontecer, porque uma parcela da população ainda tinha receio da nova raça, tinham medo que um dia os Turras se proclamariam melhores que os Humanos.
Com a vigência do Novo Governo, a violência física foi substituída por uma forma mais sutil e sufocante, impedindo Turras de frequentarem certos locais, e até mesmo de atravessarem as bordas de certos países, os turras que não obtinham seu ID de cadastro na Setemptrionalem sofriam uma negligência ainda maior, uma vez que não existiam informações deles para serem monitoradas ou rastreadas, e em casos de desaparecimentos as autoridades não se empenhavam em procurá-los mesmo que as respectivas famílias chorassem, implorassem ou subornassem. A vida seguia sem que ninguém prestasse atenção nem contabilizassem as crescentes estatísticas de desaparecimentos de pessoas que “não existiam”, mas alguém em algum momento notaria, e tentaria fazer algo a respeito.
Setemptrionalem. Davi se lembrava de querer estudar em uma, no momento que seu melhor amigo de infância disse que havia um lugar para pessoas como eles, os dois sentados morro acima de sua comunidade e olhando para o sol que se nascia no horizonte coberto de mato e pedras de todos os tamanhos por todos os lados, e as casas que se delongavam pelos dois lados do rio. Sua mãe dizia que estudar daria um futuro melhor pra ele, e talvez até para sua própria comunidade,
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